sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

AGRESSIVIDADE ENTRE CÃES - PARTE 2

Entre cães desconhecidos



Conhecendo o problema

A agressividade entre cães desconhecidos pode ser multifatorial. Falhas na socialização do cão, somadas a medo, falta de liderança do dono, postura inadequada do dono e superproteção podem causar problemas na relação entre seu cão e os outros.
A agressividade se apresenta de várias formas, desde os cães que latem e rosnam e pode evoluir até um estágio muito perigoso, em que o cão não é mais responsivo às tentativas de solucionar o problema e não conseguimos socializá-lo. Por isso, é importante estar atento à socialização do seu cão com os outros desde filhote e, assim que algum problema aparecer, consulte um especialista.

Atenção redobrada com o filhote!

Muitas vezes o erro começa na própria criação do filhote, nos canis. O período que o filhote passa com a mãe e a ninhada é de extrema importância para a vida inteira dele, pois é nesse período que ele aprende, entre outras coisas, a dosar sua mordida, como brincar e interagir com outros cães, o que fazer e o que não fazer para agradar seus irmãos e mãe, etc. Se ele for privado dessa interação, já será desde cedo um cão com dificuldades de socialização. O ideal é que o filhote permaneça, no mínimo, 45 dias na companhia de sua ninhada e mãe.
Quando vai para o seu futuro lar, o cão é privado da convivência com os outros até que tenha completado todas as vacinas. No entanto, nesse período de vacinas, perdemos uma fase primordial na vida do cão, a fase de socialização, que se estende dos 20 dias até as 12 semanas de vida. Nessa fase, a socialização do filhote ocorre de forma natural e ele deve ser exposto ao maior número de estímulos possíveis. Com bom senso, conseguimos estimular esse filhote sem colocar de lado a sua saúde. A interação com cães vacinados e saudáveis, de amigos e parentes, é recomendada, assim como passeios no colo do dono. Deve-se evitar praças e parques, mas isso não significa que o cão deve ficar trancado e isolado do mundo!
Passado o período de vacina, o cão deve continuar tendo contato diário com outros cães. Deixe-o se aproximar dos outros no passeio, leve-o para brincar com cães conhecidos, leve-o para creches e parques, enfim, permita o contato dele com outros cães.
Caso tenha dificuldades no contato com seu cão, por ele ser muito tímido ou ter medo, contate um profissional. Esses casos são isolados e podem ser explicados por algum trauma do filhote, mas a grande maioria dos filhotes interage muito bem com outros cães.

Estava tudo indo muito bem, até que...

Às vezes, mesmo que o dono permita uma socialização ideal de seu filhote, o cão pode chegar à adolescência, lá pelos 8 a 10 meses, e alterar seu comportamento com os outros cães. Na maioria das vezes é por questão de dominância e isso deve ser trabalhado desde cedo para que não haja problemas mais tarde. Isso é mais comum em cães machos e em raças mais temperamentais, mas se o dono não exercer sua autoridade e dominância, qualquer cão pode achar que é superior aos outros.
Cuidado na interpretação do que é agressividade ou não. As brincadeiras entre cães mimetizam situações de dominância e submissão e muitas vezes envolvem mordidas, latidos e rosnados.

E se o problema já se instalou?

Quanto antes começarmos uma intervenção, mais fácil será reverter a agressividade entre cães. Através de algumas técnicas, baseadas em recompensa por comportamentos agradáveis, conseguimos reduzir gradualmente a resposta agressiva do cão.
Primeiramente, avalia-se a motivação do cão: alguns cães machos só brigam com cães machos maiores que eles, algumas fêmeas só brigam com fêmeas e assim por diante. Baseado nisso, começamos a aproximação com outros cães, deixando o desafio maior para o final do processo, sempre de forma gradativa.
Ao mesmo tempo, realiza-se uma socialização do cão com outros nos passeios, em praças ou em creches, sempre gradualmente e respeitando a segurança dos cães.
Nunca coloque em risco a sua segurança ou a de seu cão. Chame um especialista para te auxiliar e aconselhar. Muitas vezes, na tentativa de ajudar seu cão, você pode agravar a situação.

Texto: Joice Peruzzi, médica veterinária especialista em comportamento animal.